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Fonte: Internet |
No
Brasil e no mundo estamos vivendo um momento de ascensão das forças
conservadoras, que, com função ideológica, reproduz um modo der ser fundado em valores historicamente preservados pela tradição e
pelos costumes. A retomada do conservadorismo contribui no fortalecimento do
patriarcado, sistema em que os homens exercem uma opressão sobre as pessoas do
sexo feminino, apropriando-se por meios pacíficos ou violentos da sua força
produtiva e de reprodução. Esse modelo legitima a desigualdade entre os gêneros
e o sexismo, reforçando o estigma e reproduzindo modelos de opressão. Esse
assunto é do interesse de toda a sociedade, uma vez que as formas de
discriminação de gênero estão presentes independentemente das classes sociais,
faixas etárias, raças, cores e etnias.
No que se refere ao contexto da prostituição,
podemos afirmar que a violência se legitima ao considerarmos o lugar ocupado
pela mulher que exerce a prostituição dentro deste contexto. Diniz (2008)
afirma que a sociedade, ao longo do tempo, construiu perspectivas
preconceituosas e discriminatórias no que diz respeito à prostituta, que foram
sendo introjetadas no imaginário social, como aquela que dissemina doenças,
mulher de “vida fácil”, “safada” e que não merecem respeito da sociedade. Dessa
forma, o estigma se torna a materialização deste preconceito e pode vir a ser
reproduzido nas diversas formas de violência.
Recentemente,
o Projeto Antonia desenvolveu uma pesquisa sobre a violência contra a mulher
que exerce a prostituição, com o intuito de construir perspectivas para o
enfrentamento de situações de violência contra este público. Na construção
desse trabalho, percebemos que a violência contra a mulher que exerce a
prostituição também é atravessada pelo machismo e sexismo e reflete a
desigualdade de gênero.
"GRANDE PARTE DAS ENTREVISTADAS NÃO RECONHECE O QUE É A
VIOLÊNCIA, PORTANTO SOFREM VIOLÊNCIA E A NATURALIZAM"
Na
pesquisa, 65,3% das mulheres entrevistadas afirmam já terem sofrido violência
pelo fato de serem mulheres. No que diz respeito à violência no exercício da
prostituição, 51,2% afirmam já tê-la sofrido. A maioria dos casos é de
violência moral (35,8%), seguida da patrimonial (29,4%), psicológica (28,2%) e
física (23,07%).
A
partir de alguns dados da pesquisa, foi interessante perceber que grande parte
das entrevistadas não reconhece o que é a violência, portanto sofrem violência
e a naturalizam. São comuns os depoimentos de baixa autoestima e fragilidade
emocional, o que contribui para que a mulher se sinta culpada e não se
reconheça como vítima da violência.
O movimento social de
prostitutas tem rejeitado as abordagens que insistem em retratá-las como
vítimas ou desviantes e, por meio de suas ações, buscam afirmar o protagonismo
além de denunciar o estigma e preconceito voltados a pessoas que exercem
prostituição, evidenciando como tais fatores, historicamente, têm prejudicado a
qualidade de vida dessas pessoas e dificultado a luta pelo exercício pleno da
cidadania (Souza, Ferreira e Oliveira, 2011).
O Brasil ocupa a 85ª posição
em desenvolvimento humano e desigualdade de gênero segundo o Relatório de
Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
Estudiosos mostram que para combater essa desigualdade se faz necessário um
trabalho de conscientização. Nesse sentido, entendemos que, diante do contexto
descrito, é importante ações que trabalhem a sensibilização da sociedade,
envolvendo iniciativas sociais no
enfrentamento dos problemas vividos pelas mulheres, contribuindo para a desconstrução do sexismo, incentivando
também a articulação de toda a sociedade. Chamamos a atenção aqui para ações
que possam desconstruir também o estigma da prostituição.
Fernanda Moreira
(Assistente Social - Projeto Antonia)
Referências
Bibliográficas:
DINIZ, Maria Ilidiana. Os determinantes que invisibilizam a violência contra a mulher no
contexto da prostituição. Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder,
2008. Disponível em: http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST11/Maria_Ilidiana_Diniz_11.pdf.
Acesso em: 18/12/2017.
SOUSA, Fabiana Rodrigues de, FERREIRA, Flávia
do Carmo e OLIVEIRA, Maria Waldenez de. Dia
Internacional da Prostituta: marco da organização e luta por direitos. Folha
de São Carlos, 2011. Disponível em: https://grupodeestudostrabalhosexual.wordpress.com/2011/06/02/dia-internacional-da-prostituta-marco-da-organizacao-e-luta-por-direitos/.
Acesso em: 25/11/2017.